Govtechs: a hora e vez da disrupção no GovernoDaoura

É clara a distância do Governo e da sociedade civil hoje no Brasil. Por razões históricas, uma série de acontecimentos ao longo dos últimos anos, principalmente os casos de corrupção que corroeram (e ainda corroem) a gestão pública, aliados à falta de comunicação direta e transparente dos governantes, fizeram com que a sociedade civil se tornasse alheia aos problemas e desafios do coletivo. A entrega de serviços públicos eficientes e de qualidade do Governo também sofre com tamanha burocracia, lentidão, e despreocupação com seu principal cliente: o cidadão.

Felizmente, esse cenário está começando a mudar. A exemplo do que tem ocorrido em mercados tradicionais, como o financeiro e o de mobilidade urbana, que passam hoje por uma forte disrupção de processos e ferramentas com o surgimento de startups tecnológicas, já vemos movimentos de empreendedores ao redor do mundo, inclusive no Brasil, que estão desafiando o status quo dos governos e desenvolvendo soluções tecnológicas capazes de transformar a forma de gerenciar cidades, estados e países: são as GovTechs!

Essas iniciativas estão explorando oportunidades de revolucionar a forma como o próprio governo gere seus processos internos e toma melhores decisões. Vemos, por exemplo, startups desenvolvendo ferramentas para aproximar a gestão pública municipal dos problemas reportados pelos cidadãos por meio de aplicativos. Citizen Lab, Promise Tracker e Colab, esta última brasileira, tornam simples a participação cívica na resolução de problemas sociais, e aumentam o engajamento de comunidades, utilizando tecnologia. Outro exemplo é o aplicativo Mudamos, também brasileiro, que utiliza tecnologia de Blockchain para permitir que cidadãos se engajem na administração pública, assinando projetos de lei de iniciativa popular pelo celular, de maneira simples e segura!

E não deve faltar dinheiro para elas. O GovTech Fund, iniciativa pioneira de financiamento de projetos exclusivamente voltados para tornar governos mais eficientes, responsivos e que sirvam melhor à sociedade, surgiu no centro mundial das inovações tecnológicas: o Vale do Silício. No Brasil, o Brazil LAB lançou recentemente o GovTech Brasil, cuja ideia é investir em negócios que resolvam problemas de municípios e tragam inovação para o setor público brasileiro. É preciso mais iniciativas e formas de financiamento, mas esse já é um importante começo!

Apesar das boas notícias, o caminho é árduo. Enfrentar as mazelas governamentais e a “cultura de corrupção”, que por décadas enraizaram-se na máquina pública e se tornaram parte da “forma de fazer” do governo - e aqui me refiro principalmente ao governo brasileiro, em todas as esferas -, é um enorme desafio. É como tentar mudar a mentalidade de uma pessoa de mais idade com ideias da juventude. Não é impossível, mas exige duro esforço de argumentação dos mais jovens e mente mais aberta dos mais velhos. O fato é que esse movimento já acontece e é um caminho sem volta.

Chegou, portanto, a hora de rompermos métodos e modelos tradicionais de gestão pública que tanto nos atrasam, trazem ineficiência e entregam serviços públicos de baixa qualidade para os cidadãos. Chegou a hora de termos uma governança pública eficiente, com decisões e ações mais precisas, com atitudes e governantes mais inteligentes.

Ferramentas estão surgindo e a tecnologia está aí, disponível para que cada vez mais empreendedores possam transformar nossa sociedade com soluções inovadoras. Basta agora mostramos, por meio de bons exemplos, como a disrupção tecnológica no governo é essencial para vivermos no país que queremos viver. Chegou a hora.